A vitória do populismo, principalmente de ultradireita, ultranacionalista, em vários países do mundo, que coincidiu com a eleição de Trump. de Salvigni e de Bolsonaro, foi tratada como manifestação de uma tendência de longo prazo, ou durável. A ideia traz embutida a noção de persistência da vantagem eleitoral dos populistas onde já ganharam e sua propagação por outros cantos. Mas, lancei a hipótese de que é uma onda e, portanto, passageira. Ela pode ocorrer, ainda, em países por onde não passou. Ondas vão e vem, dependendo das circunstâncias locais. As recentes eleições para o parlamento europeu, para as quais partidos de extrema direita tinha prognósticos muito positivos, mostraram, ao contrário, retração de uma parte deles e resultados bem mais modestos, para outra parte. As eleições para o parlamento grego, no domingo (8/7), que levaram à substituição do primeiro-ministro Alexis Tsipras, de esquerda, por Kyriakos Mitsotakis, do Nea Dimokratia (Nova Democracria), partido conservador liberal-democrático, também confirmam a hipótese da onda. Os partidos de extrema-direita foram quase eliminados da representação parlamentar.
O principal deles, o Laikos Syndesmos Chrysi Avgi, ou Aurora Dourada, nem passou pela cláusula de barreira. Teve 2,9% dos votos e não ganhou cadeiras no parlamento. O outro partido de ultradireita, o Elliniki Lysi (Solução Grega) passou a cláusula de barreira, com 3,7% dos votos e conquistou 10 cadeiras, 3%, do parlamento.
Com a economia andando de lado, os traumas da austeridade ainda duramente presentes e problemas sociais domésticos agravados pela imigração de passagem via Turquia, é notável que a maioria dos eleitores tenha se dividido entre a oposição conservadora liberal-democrática e a esquerda. O Nea Dimokatia conquistou a maioria parlamentar de 158 das 300 cadeiras (53%) com 44% dos votos. O Syriza, até então no governo, ficou com 86 cadeiras (29%) com 31,5% dos votos e será o pivô da oposição. A esquerda, no total, conseguiu 48,3% dos votos e 132 cadeiras (44%), com 4 partidos. Além do Syriza, o Kinima Allagis, herdeiro do tradicional social-democrata Pasok (8,1% dos votos e 22 cadeiras), o KKE, partido comunista (5,3% e 15), e o Mera25, do ex-ministro da Finança de Tsipras, Yannis Varoufakis, (3,4% e 9).
Esse resultado confirma os de outras eleições nacionais e nas recentes para o parlamento europeu, com retração da ultradireita. Não houve uma guinada à esquerda, até porque partidos progressistas com pensamento novo, como parece ser, por exemplo, o Mera25 grego, são ainda muito raros. A esquerda tradicional tem apresentado propostas sem sincronia com o momento que vivemos no mundo. Olham mais para trás do que para frente. Estão mais interessados em explicar as atribulações presentes, atribuindo-as à malícia dos outros, do que em compreender suas raízes estruturais e oferecer soluções inovadoras, apontando para a frente e que ajudem a mitigar os custos da transição para os mais desprotegidos. O que houve foi o retorno de parte do eleitorado de centro-esquerda ao seu veio habitual e a migração do voto de ultradireita para a centro-direita democrática. Um movimento auspicioso para a ameaçada democracia representativa.