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O vinho premiado da tecnocasa-grande

A Serra Gaúcha, Vale dos Vinhedos e Vale do Tuiuty, onde ficam as principais cidades da vinicultura avançada, como Bento Gonçalves, Garibaldi e Pinto Bandeira, tem alguns dos vinhos mais premiados do Brasil. O Vale dos Vinhedos é a única região brasileira com a classificação de Denominação de Origem (D.O.), abrangendo os municípios de Garibaldi, Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul. O cultivo e o processamento do vinho no Vale D.O. deve seguir normas restritas que asseguram a qualidade final. Daí, saem os espumantes considerados entre os melhores do mundo, entre outros vinhos premiados. O que não sabíamos é que na colheita das uvas eram usadas as práticas mais arcaicas possíveis, o trabalho forçado, com métodos coercitivos e repressivos, portanto análogo à escravidão.

A série de matérias de Andrei Neto, com fotos de Daniel Marenco, para este Headline, mostra evidências incontestáveis de que algumas da principais vinícolas localizadas no Vale dos Vinhedos D.O., a Aurora, a Salton e a Garibaldi, usavam trabalhadores terceirizados submetidos a esses métodos repressivos na colheita.

Uma das matérias revela, também, que os trabalhadores em cativeiro eram usados no “apanha frango” nas granjas da Serra Gaúcha. A produção de frango de corte é outro segmento que transformou o Brasil em segundo maior produtor e exportador mundial, com avanços tecnológicos, mercadológicos e logísticos. Essas granjas mergulhadas na lama do trabalho arcaico são fornecedoras da BR Foods, uma das maiores empresas globais de alimentos, presente em 127 países e detentora de grandes marcas, como Sadia.

A essa combinação de alta tecnologia e práticas sociais anacrônicas é que chamo de tecnocasa-grande. A modernização tecnológica, a globalização e a digitalização se fundem com a mentalidade da casa-grande patriarcal e escravocrata e com as práticas da lavoura arcaica. Este agro de comportamento social fóssil tende ao reacionarismo político. Não por acaso, se dependesse do Vale dos Vinhedos, Bolsonaro teria sido reeleito presidente no primeiro turno. Ele obteve 69,12% dos votos em Bento Gonçalves; 68,27%, em Garibaldi; 76,20%, em Monte Belo do Sul; e 75,62%, em Pinto Bandeira.

A busca por inovações para a melhoria dos vinhedos e da produção de vinhos ganhou impulso nos anos 2000. No cultivo da uva, passaram a ser usadas mudas certificadas e manejo mais adequado. Na produção do vinho, a modernização tecnológica exigiu a aquisição de máquinas e equipamentos com inteligência artificial. A contratação de enólogos tecnicamente capacitados melhorou o controle de qualidade. Hoje a produção vinícola recorre à biologia molecular, tecnologias de informação, sensoriamento remoto, geoprocessamento e zoneamento, como os melhores produtores mundiais.

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