Eleição só termina depois de contado o último voto e anunciado o resultado oficial. É como jogo, só acaba quando o juiz apita e indica o centro do campo. Este ano, nos EUA, pode ser muito complicado determinar o final da eleição. Trump está com disposição de bloquear a vitória de Biden nos tribunais. Para isso manobrou a última nomeação para a Suprema Corte. Outro nomeado seu para a Suprema Corte, o ultraconservador Brett Kavanaugh, já escreveu que vai melar o resultado se puder. Este é o caráter da extrema-direita. Autoritária, não quer deixar a democracia funcionar. Só se for a favor.
Tudo indica que a vantagem de Biden é real. Fora os casos excepcionais de derrota acachapantes, como foi a de McGovern para Richard Nixon, em 1972, as eleições americanas têm resultados apertados. O vitorioso ganha na margem. O bipartidarismo promove respostas razoavelmente regulares do eleitorado. O único grande desvio, nos últimos 28 anos e sete eleições, foi a vitória de Bill Clinton, em 1992. O voto Republicano se dividiu fortemente com a entrada do empresário texano Ross Perot, muito apoiado por movimentos de base conservadores por toda a federação, como candidato independente. George Bush pai perdeu muitos votos para ele, em todas as categorias de eleitores. A votação dos dois, somada, suplantou a de Clinton. O Democrata foi eleito com 43% dos votos. Bush e Perot juntos, tiveram 56%.
Na tabela abaixo, comparo as médias das últimas sete eleições, de 1992 a 2016, com os dados de uma pesquisa do PEW Research Center sobre as intenções de voto em 2020, por categorias de eleitores, nos três grupos demográficos eleitoralmente mais relevantes: gênero, etnia e idade. Infelizmente, não há dados comparáveis para renda e educação. Mas, a correlação destas duas variáveis com etnia é, como se sabe, relativamente alta. Duvido que haja diferenças muito importantes, por exemplo, entre o voto negro, latino e asiático e o voto discriminado por educação ou renda. O que a tabela mostra é que as pesquisas de hoje apresentam um padrão de voto similar ao padrão da média dos votos das eleições passadas. Entraram nas médias três eleições com vitórias republicanas (duas de Bush e uma de Trump) e quatro democratas (duas de Clinton e duas de Obama). Na primeira vitória, de 1992, George Bush tentava a reeleição e perdeu para Bill Clinton.
As diferenças entre as intenções de voto para Biden e Trump e os desvios em relação às médias, retratam as pequenas vantagens do primeiro e as pequenas desvantagens do segundo, que podem dar a vitória ao Democrata. Adicionalmente, é bom anotar que Biden está avançando em redutos tradicionalmente republicanos e Trump não mostra qualquer vantagem em redutos democratas. Biden é favorito na maioria esmagadora dos “swing states”, aqueles que ora dão maioria democrata, ora republicana.
Nada é conclusivo, mas as vantagens de Biden são claras, em todas as dimensões relevantes do voto. Duas incógnitas podem jogar um papel que altere a dinâmica entre as pesquisas e as urnas. O primeiro, é o comparecimento. Tudo indica, pelo volume de votos antecipados, que o comparecimento será significativo. É ponto favorável a Biden. O outro, é a margem de dúvida que pode garantir a Trump um caso persuasivo para bloquear votos de determinados distritos. Sem falar no caso judicial, sobre o qual Kavanaugh se manifestou, relativo à data de contagem dos votos pelo correio. Claro que são incógnitas em relação ao que ocorrerá, mas não quanto ao papel que podem desempenhar no desfecho das eleições. O conhecimento prévio de que podem ser um fator relevante, incentiva ações estratégicas de prevenção. Por exemplo, muitos estados já começaram a contagem dos votos por correio, para não ultrapassar a data de contagem dos votos presenciais. Há um movimento intenso entre negros e Democratas em geral de estímulo ao voto, mostrando que o comparecimento fará diferença e o resultado será decisivo para a vida e a segurança dos negros, latinos e outros grupos de imigrantes.