O Flamengo é pentacampeão da Copa do Brasil graças a um raro acerto, após sucessivos erros de uma das piores diretorias que já teve na escolha de técnicos, convocou Filipe Luís sem convicção. Foram equívocos seriais, após a saída de Jorge Jesus e da troca inexplicável de Dorival Júnior — que se saía muito bem no time. Os europeus, Domenec Torrent, Paulo Sousa e Vítor Pereira se desavieram com o time, desentenderam os talentos acumulados. Rogério Ceni, Jorge Sampaoli e Renato Gaúcho não se adaptaram ao Flamengo e nem ele aos técnicos. O futebol de Tite é a antítese da vocação flamenguista, medíocre e conformista. Era, também, hostil ao melhores do clube. O Flamengo só se reencontrou, quando a diretoria, sem muita escolha, chamou Filipe Luís para técnico do time principal.
Filipe Luís sabe comandar sem hostilidades, conhece a equipe de interagir com ela dentro do campo e em momentos amargos. Reconhece e respeita os talentos individuais e sabe usá-los na medida e na hora certa. Sua estratégia, mesmo quando defensiva — que não é a pegada do Flamengo — está em sintonia com o estilo dos jogadores. Não perde tempo, como Tite que, vacilante, deixava as substituições para os minutos finais ou mantinha o time, mesmo vendo que o arranjo inicial não funcionava.
Filipe Luís troca jogadores no momento em que a substituição se faz necessária. Entendeu que pode fazer uma linha de três zagueiros, mas numa armação que mantém uma frente ofensiva e um meio de campo capaz de acionar e apoiar a zaga e o ataque. Explorou a velocidade dos jogadores, especialmente no segundo tempo, quando o Atlético se viu obrigado a partir para o ataque, vendo o tempo se esvair e precisando de dois gols para ir aos pênaltis. Foi nessa maior abertura da disputa que saiu o gol do Flamengo, de contra-ataque, dos pés de Plata.
O técnico não abre mão do comando, mas dá espaço para as habilidades individuais, seja no jogo mais fechado, seja no mais franco. Sabe aproveitar bem as virtudes de Gérson — na minha visão o melhor em campo na vitória final contra o Atlético Mineiro — de Bruno Henrique e de Arrascaeta. Depois de muitos anos de hesitações e erros nas substituições, as trocas de jogadores em campo por Filipe Luís, no momento certo, têm funcionado e melhorado o desempenho do time, seja reforçando a defesa, seja criando novas possibilidades no ataque.
Gabigol esteve bem no primeiro jogo, no Maracanã, fez um gol decisivo, mas não se saiu tão bem no segundo, na arena MRV. Sua substituição veio na hora certa com Bruno Henrique, o jogador certo. BH tem rapidez, visão de campo no ataque e ajuda mais na defesa, especialmente nas roubadas de bola, do que Gabigol. A substituição de Michael, que tem velocidade e drible, por Gonzalo Plata deu certo e foi dos pés dele que saiu o gol que consolidou a vitória do Flamengo por 4×1 no total dos dois jogos da final da Copa do Brasil.
Filipe Luís está se mostrando o nome certo para tirar o melhor proveito dos muitos talentos hoje no Flamengo. Sua estratégia defensiva provou ser mais dinâmica e mais criativa com a linha certa de três zagueiros, do que a retranca conformada de Tite. Salvou o Flamengo do vexame de encerrar a temporada de 2024 sem um título. Classificou o time para a fase de grupos da Libertadores de 2025. Ele sabe que a constância no desempenho, a consistência dos resultados e o retorno ao pódio dos campeões é o caminho para permanecer no Flamengo e se qualificar como um treinador que sabe equilibrar o melhor do que aprendeu no futebol europeu, com o melhor do futebol brasileiro, baseado na criatividade individual. Longa vida a Filipe Luís no Flamengo.