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Fim de ciclo, feliz recomeço a todos

Estranho Natal, este de 2022. Ainda não terminou o ciclo de desgoverno e horror. Podemos saber pela manhã deainda mais uma afronta à decência e aos valores fundantes da boa sociedade. Todavia, já temos a certeza de que tudo cessará em primeiro de janeiro.

Explico meu sentido de boa sociedade. Uma boa sociedade tem um padrão normal de conduta coletiva e política. Padrões normais acomodam coisas boas e coisas más. Erros e acertos. Encontros e desencontros. Contrariedades e satisfações. Uma circunstância anormal, como a dos nossos últimos quatro anos, só tem lugar para o mal. O bem não prospera sob o domínio do mal.

Sociedades são capazes de muita insensatez. Algumas se autodestróem, incapazes de um momento de lucidez coletiva. Escolhas más há em toda a história de todos os lugares. As pessoas vivem desesperos que desconhecemos e, quando o desalento se generaliza, tendem a agir como um rebalho desgovernado em marcha incontível para a insensatez.

A historiadora Barbara Tuchman documentou vários casos de desvario coletivo, de Tróia ao Vietnam. Tivesse podido revisitar sua hipótese algumas décadas depois e encontraria numerosos outros exemplos. Hannah Arendt nos ensinou que nós humanos somos capazes do mal absoluto, incalculável, contra outros humanos, portanto, contra nós mesmos. E este mal não nos é externo. Ele nasce de escolhas insensatas, desesperadas, das sociedades. E pode acontecer em qualquer sociedade, não é exclusividade de um tipo de formação social em particular.

Viveremos um Natal de sobressaltos, pensando no destino dos ucranianos, sem calefação e sem energia, bombardeados impiedosa e aleatoriamente por uma Russia dominada por um agente do mal. E, se estendemos o olhar, nosso Natal seria sufocado pela tristeza de lembrar tantos tormentos.

Estranho Natal, em que ansiamos pelo retorno da normal sucessão de coisas boas e más, torcendo ou sonhando para que as boas superem as más. Se não tivéssemos a capacidade de esperar o bem, se não fossemos capazes de, em momentos de celebração da passagem de ciclos, olhar o futuro com otimismo, desejando que ele traga mais momentos bons do que maus, viveríamos uma depressão universal. Ainda bem que há ritos de passagem de ciclos distintos, celebrados em diferentes momentos por alguma parcela da humanidade. Assim, sempre, em algum lugar, em algum momento, haverá um coletivo desejando o bem, esperando dias melhores, fazendo votos de felicidade geral.

Aqui, encerrando um ciclo que pareceu interminável, mas está na sua semana final, desejo a todos um feliz Natal e um Ano Novo venturoso.