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O presidente caiu mesmo… na Espanha

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O presidente do governo da Espanha caiu e o líder do PSOE, Pedro Sánchez assumiu o governo, como escrevi no domingo passado que ocorreria. Sánchez tomou posse, hoje, diante do rei, e se prepara para formalizar o gabinete. A governabilidade de seu governo depende do Podemos e dos partidos da Catalunha e do País Basco. O PP e o Ciudadanos têm 48% dos deputados. O PSOE tem 25% e o Podemos, 20%. Para formar a maioria precisam dos partidos nacionalistas. Esse grupo majoritário conspirou em segredo para depor Rajoy. Mas, mantê-los na coalizão não será fácil. Não é uma questão de dar ministérios, embora o líder do Podemos, Pablo Iglesias, tenha manifestado o desejo de estar no gabinete. Os nacionalistas querem uma discussão séria e positiva sobre suas autonomias. A intervenção na Catalunha, promovida por Rajoy, foi um desastre e aumentou o controle dos nacionalistas catalães no governo da região. O Podemos quer uma pauta social consistente e abrangente.

Os desafios são inúmeros. A Espanha precisa resolver o problema de sua dívida pública. Há uma grave questão sobre o financiamento das regiões autônomas. A reforma da Previdência está na pauta. O orçamento foi escrito pelo PP e já está aprovado. Sánchez não pode pretender resolvê-los em um governo que tem, no máximo, um ano de duração. Para obter os poderes necessários para tentar encontrar respostas estruturais para esses dilemas e acertar um novo estatuto autonômico que mantenha as regiões, especialmente a Catalunha e o País Basco, como partes da nação espanhola, precisa obtê-los no voto. Poucos acreditam que o governo Sánchez durará um ano, até as próximas eleições. Mas, muitas análises estão influenciadas pelo governo Rajoy. Minoritário, sem legitimidade e paralisado, agarrado ao poder com todas as forças, não lhe sobrou energia para mover o processo decisório. Caiu ao ver seu partido condenado por corrupção e seu nome citado como parte do esquema. Rajoy era governante velho e desgastado. Sánchez é sangue novo. Terá que montar uma agenda, que atenda de forma imediata e satisfatória às demandas principais daqueles que lhe podem dar a maioria, e apontar o rumo de uma agenda mais ambiciosa, para depois das eleições. Seu principal desafio será equilibrar-se no poder, reconquistar a confiança no PSOE e obter um mandato claro, nas urnas, para um governo de esquerda. A Espanha e Sánchez estão em busca de uma gerigonça. A geringonça é a coalizão de esquerda de Portugal, que parecia improvável, numa Europa dominada por partidos de centro-direita. E está funcionando. Sánchez terá que descobrir uma jeringonza, que seja tão bem ajambrada quanto a portuguesa.

Ainda na Europa Meridional, na Itália, também tomou posse um novo governo. Como na Espanha, as eleições gerais não produziram um quadro de forças claro, nem maioria firme. Após muitas negociações, o heterodoxo Cinco Estrelas, partido muito novo e sem definição política, exceto ser contra o sistema de poder vigente, e a Liga, partido ultranacionalista, se entenderam e formaram uma coalizão majoritária. O presidente italiano, porém, Sergio Mattarella, usando no limite seus poderes de Chefe de Estado, resistiu a muitos nomes para a Chefia de Governo, até fixar-se em Giuseppe Conte. Usou seu poder de veto para evitar um governo antieuropeu. Mas, Conte, um acadêmico de corte populista, assume um governo encrespado, cheio de conflitos. O premiê tem poder limitadíssimo. Quem tem a força são os líderes dos dois partidos recém-aliados, Giuseppe di Maio, do Cinco Estrelas e Matteo Savini, da Liga, que já prometeu expulsar todos os imigrantes. Conte será desafiado o tempo todo. Ninguém aposta muito da longevidade do governo.

Os politólogos que propõem o parlamentarismo como solução para o Brasil, sabem que ele pode ser muito instável e viver uma sucessão de governos de curta duração. Não é imune às crises políticas, muito pelo contrário, é vulnerável a elas. Entre os políticos parlamentaristas poucos sabem disso. Mas, na opinião pública, os que apoiam o sistema não têm muita noção de suas fragilidades. Se for implantado país no, vão querer soluções imediatas e duráveis, coisa que o sistema em si, não garante. Dependerá sempre da qualidade, coerência e solidez da maioria parlamentar.

 

Publicado originalmente no Blog do Matheus Leitão: https://g1.globo.com/politica/blog/matheus-leitao/post/2018/06/03/mariano-rajoy-caiu-mesmo-na-espanha.ghtml