Em 2001, lendo o noticiário americano e europeu sobre a invasão do Afeganistão, novamente a foto histórica da menina afegã, de Steve McCurry para a capa da National Geographic, ficou impressa em minha retina. A capa é de 1981 e se referia à infindável guerra no Afeganistão, mas sempre que a questão feminina e, sobretudo das meninas afegãs, ganha relevo, a foto de McCurry é relembrada. Ele capturou no retrato a gama de expressões no rosto expressivo e belo, naquele olhar, a um tempo desafiador e perplexo, de espantados olhos verdes que interrogam a humanidade, testemunhas de uma tristeza secular.
Lembrei-me disso tudo, ao ver a corajosa repórter da CNN, Clarissa Ward, sendo hostilizada pelos talebãs no centro de Cabul. Em matéria anterior, ela entrevistou um deles, que afirmou que todas as mulheres seriam obrigadas a usar o nikab novamente. Ela não ficou convencida, porém, da veracidade das garantias, em seguida, de que as meninas poderiam continuar a estudar após os 12 anos, e que as mulheres poderiam trabalhar no que desejassem. A foto e a tragédia passada, presente e futura daquelas meninas me levaram ao poema abaixo.
As Meninas Afegãs
Elas tem os olhos tristes
e miopia da esperança
não vêem horizonte algum
só passado tenebroso
e presentes tormentosos.
Elas têm os olhos tristes
e muito medo.
São as meninas afegãs.
Elas temem o Talebã,
temem a Aliança do Norte,
elas temem o Ocidente
temem os homens mais que à Morte.
São as meninas afegãs
de olhos tristes,
rostos infantis, na face a descrença adulta,
e no olhar uma dor milenar.
São as meninas sofridas
de um país para o qual
seu povo não tem nome.
São as meninas do Amir de Cabul,
com a alma cega para o amanhã
para quem o futuro é sofrer em silêncio,
são as meninas tristes de Kandahar.
Rio, 18/11/2001