Quem esperava mudanças nas pesquisas desta semana, não as encontrou na pesquisa IPEC divulgada ontem, 15/7. Os dados da pesquisa ficaram muito próximos das médias de junho e julho e da pesquisa Quaest para a primeira quinzena de agosto.
Esta convergência entre pesquisas com amostras e métodos diferentes reforça minha hipótese de cristalização das preferências eleitorais e consolidação da tendência de voto. Neste caso, só fatos de alto impacto teriam condição de demover eleitores. A repercussão do pacote de transferências eleitoreiras de renda e abatimentos fiscais, no primeiro momento, foi muito pequena.
A distância muito pequena entre a pesquisa espontânea e a estimulada é um indicador de consolidação da intenção de voto. É a menor diferença já observada nas pesquisas para eleições presidenciais. Para Lula, a diferença é de apenas 3 pontos (41% x 44%). Para Bolsonaro, é de 2 pontos (30% x 32%). Na pesquisa espontânea, 73% das preferências já estão dadas por Lula, Bolsonaro e Ciro. A taxa de indecisos na véspera do início oficial da campanha é muito baixa: só 16%. Como os nulos e brancos estão na média real obtida na urna eletrônica, de 10%-15%, Lula continua beirando a vitória no primeiro turno.
As condições de elegibilidade de Bolsonaro não são boas. Ele não é o favorito nas pesquisas. Ao contrário, a vantagem de piso de Lula, no momento, é superior a 10 pontos percentuais, em todas as pesquisas confiáveis recentes. A rejeição de Bolsonaro, de 46%, é alta. A avaliação do governo é negativa.
O percentual daqueles que avaliam o governo positivamente é de 29% e daqueles que avaliam negativamente, de 43%. A avaliação líquida, medida pela diferença dos dois como percentual do total sem “regular”, é de -19% (negativa em 19 pontos). A desaprovação da maneira de Bolsonaro governar é de 57%, marca que indica inelegibilidade.
Uma outra maneira de analisar a popularidade líquida é pelo cruzamento da avaliação com a aprovação: 50% dos que desaprovam a maneira de Bolsonaro governar dizem que seu governo é “regular”. Portanto, é válido considerar que 13% teriam avaliação de “regular negativo”. A avaliação negativa seria, então, de 56%. Como 37% dos que aprovam a maneira de governar de Bolsonaro avaliam positivamente seu governo, ele teria em torno de 10 pontos de “regular positivo”. A avaliação positiva seria de 39%. E a avaliação líquida, ou popularidade líquida, seria de -17%.
Por qualquer método que se analise eses indicadores, no seu conjunto, a conclusão é clara. Bolsonaro chega ao início da campanha com baixas condições de elegibilidade. Ele terá que acertar muito na campanha e contar com um impacto mais forte das benesses que distribui para melhorar sua elegibilidade. Se Lula errar muito na campanha, pode ajudar Bolsonaro a melhorar seus baixos índices de elegibilidade.
Nunca tivemos disputa entre ex-presidente e presidente em exercício. Tenho insistido neste ponto que define o ineditismo da eleição de outubro de 2022. No balanço de memória e julgamento de desempenho Bolsonaro sai em desvantagem. Ele é mal avaliado e tem intenções de voto significativamente inferiores às de Lula, que é o favorito nas pesquisas desde o início.
É baixa a probabilidade de reeleição de candidato a presidência que sai em desvantagem nas preferências eleitorais, com rejeição e desaprovação muito altas. Embora presidentes em busca da reeleição consigam melhorar sua popularidade durante a campanha, o fato de estar em desvantagem nas intenções de voto complica a tarefa que Bolsonaro tem pela frente. Dilma Roussef, por exemplo, conseguiu melhorar seus índices de forma relevante na campanha de 2014. Mas ela saiu na frente nas intenções de voto.
Lula tem mais voto entre quem ganha auxílio do governo federal (52% x 40%) do que entre quem não ganha, e tem vantagem significativa nos dois grupos sobre Bolsonaro. A diferença entre as mulheres a favor de Lula é de 19 pontos.
Lula lidera em todas as regiões, menos no Sul, onde ele e Bolsonaro empatam. A diferença a favor do ex-presidente no Nordeste é de 35 pontos. A vantagem de Lula é expressiva em São Paulo, 10 pontos, e em Minas Gerais, 13 pontos. No Rio, reduto de Bolsonaro, os dois empatam. Lula sai na frente no Sudeste, que abriga 43% do eleitorado, e tem enorme vantagem no Nordeste, que corresponde a 27% do eleitorado. A rejeição a Bolsonaro (aqueles que dizem não votar nele em situação alguma) ultrapassa 50% no Nordeste, nas capitais e nas cidades com mais de 500 mil habitantes. É improvável, quase impossível, compensar essa diferença no Sul, Norte e Centro-Oeste, colégios eleitorais bem menores.
Insisto que não há mudança real e significativa entre as pesquisas de maio, junho e julho. Em agosto, por enquanto, observa-se esta mesma cristalização das preferências eleitorais, indicando a probabilidade de que o voto já esteja bastante consolidado.
Este quadro sugere duas estratégias eleitorais muito diferentes. Bolsonaro terá que fazer campanha intensa de recuperação. É arriscado fiar-se apenas na propaganda negativa para desacreditar o opositor e avançar sobre suas bases. Se errar, Lula pode ganhar no primeiro turno.
Lula terá que fazer uma campanha de administração de vantagem. Se errar, a eleição vai para o segundo turno. Se errar muito a disputa pode ficar bem apertada e ser decidida por margem pequena.