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A morte e a morte do PSDB

A filiação de uma pessoa historicamente identificada com a direita ao PSDB nega e desfaz o propósito de lideranças sênior do partido, que viveram o seu auge, como Tasso Jereissati, ex-governador de êxito e ex-senador de peso. Eles querem renovar o partido, atrair jovens que tenham sonhos e propostas. Mas o partido segue na contramão. Hoje, não passa de refúgio de ruralistas desmatadores, oportunistas e pessoas identificadas com a direita. Tem governadores que se destacam, tanto por estarem longe da mediana do partido, quanto por sua inexperiência política que alimenta erros estratégicos.

O partido nasceu da costela saudável do MDB, criado por políticos e intelectuais de centro -esquerda e centro-direita que tinham visão, projeto e ideias para o país. Até o governo Fernando Henrique, o PSDB tinha um perfil social-democrático dominante, de centro-esquerda. Mantinha um pé na democracia-cristã, pela via da liderança de Franco Montoro, o primeiro de uma fieira de políticos do partido a governar o estado de São Paulo. Montoro, eleito ainda quando estavam no MDB, foi um dos fundadores e expoentes do PSDB. Revelou ao país quadros políticos de primeira linha como José Serra, Paulo Renato e João Sayad, entre outros, que começaram como secretários de seu governo em São Paulo. Destaco os três que legaram ao país uma relevante e duradoura coleção de políticas públicas inovadoras, na saúde, na educação e na economia, de corte social-democrático, que marcaram a trajetória positiva do país na democracia. Entre as políticas notáveis da fase social-democrática estão a quebra de patentes e a criação de genéricos, enfrentando as grandes farmacêuticas, e a política mais avançada para AIDS, com distribuição gratuita de medicamentos pelo SUS, na gestão de José Serra na Saúde. Outra marca social-democrática fundamental foi a política de Toda Criança na Escola e a corajosa descentralização para estados e municípios de recursos destinados às escolas, o Fundef, hoje Fundeb, na gestão de Paulo Renato na Educação.

A partir do governo Fernando Henrique, o partido caminhou rumo ao centro e moveu-se da social-democracia, lugar que seria ocupado pela ala mais moderada do PT, para o liberal-socialismo. O liberal-socialismo, apesar do rótulo hipócrita usado pelo partido que elegeu Bolsonaro, tem uma história de destaque entre as correntes democráticas progressistas, ocupando a melhor posição da centro-direita. No Brasil não tem dado certo. A primeira tentativa de criar um partido social-liberal, com um programa consistente e que fazia todo sentido, escrito pelo notável intelectual José Guilherme Merquior, foi de Fernando Collor. Mas, ele já havia passado o ponto de não retorno na sua derrocada. A segunda, com o PSDB, teve sucesso efêmero e viveu seu ápice no plano real. O partido entrou em dissolução quando Aécio Neves contestou o resultado das eleições de 2014. Daí para a frente, nunca mais encontrou o caminho da boa política.

Um partido de centro-direita, democrático de raiz e com um programa social-liberal seria um elemento fundamental para a estabilidade institucional, a rotatividade no poder, sem grandes descontinuidades nas políticas que estão funcionando bem. Seria um poderoso antídoto a aventureiros golpistas de extrema-direita como Bolsonaro. Foi o que a experiência que tivemos entre 1994 e 2014. PT e PSDB polarizavam as eleições no eixo bipartidário presidencial,  e os demais partidos disputavam bancadas para participar das coalizões de governo e oposição. Este eixo, que oscilava entre a social-democracia e o social-liberalismo, se rompeu com o colapso do PSDB e não se recompôs ainda. Não existe no cenário atual um partido consistente e competitivo para substituir o PSDB na disputa do eixo presidencial. Neste vácuo, Bolsonaro se elegeu e tentou golpear a democracia.

Este eixo que vai da centro-esquerda à centro-direita e é capaz de atrair a esquerda, por um lado, e a direita, por outro para um governo moderado é essencial, também, na condução do processo de competição multipartidária que compõe o Legislativo. No vazio, o centrão cresceu e se tornou majoritário, prejudicando seriamente a governabilidade e a funcionalidade do governo.