Você está visualizando atualmente A eleição presidencial tem mais imponderáveis que certezas

A eleição presidencial tem mais imponderáveis que certezas

  • Categoria do post:Política

Entramos na fase de definições da campanha eleitoral com a realização das convenções partidárias. A única dúvida que persistirá será a candidatura do PT. É pouco provável que Lula consiga passar a barreira jurídica e registre sua candidatura. Mas a estratégia do partido será insistir até a data limite de registro.

O atraso na definição do PT, cria um espaço de dúvida razoável sobre o quadro eleitoral real, porque o partido, até agora, tem dividido com o PSDB a posição de partido presidencial viável. Lula foi o segundo colocado em três das cinco eleições que disputou e o vitorioso no segundo turno das outras duas. Nas sete eleições presidenciais, o PT foi segundo em três e vitorioso em quatro. Duas com Lula e duas com Dilma. Hoje, há razões para não desconsiderar um cenário em que o PT não seja tão competitivo como antes. Aumentou a rejeição ao partido, com o crescimento do campo conservador e com o repúdio à sua participação na rede de corrupção político-empresarial. Ele voltou ao seu tamanho, digamos, natural, dado por sua base de militantes fiéis. Insuficiente para ser vitorioso nas presidenciais.

A posição do PSDB também não é tranquila. O partido também perdeu espaço com as investigações de envolvimento do partido na rede de corrupção político-empresarial, com a impunidade de lideranças como Aécio Neves e com o apoio ao governo impopular de Michel Temer. Não se pode desconsiderar o cenário de dissolução da polarização presidencial, porque os dois partidos têm fragilidades significativas e novas. Tampouco se pode descartar o cenário de polarização PT/PSDB, que marcou as disputas para a Presidência desde a eleição de 1993.

O quadro de competidores não autoriza descartar a persistência do padrão das últimas seis eleições. As pesquisas indicam que nenhum dos candidatos tem conseguido atrair o eleitor, com os estímulos de baixa frequência disponíveis. Em outras palavras, quando estão à disposição dos candidatos para estimular os eleitores apenas os recursos da pré-campanha, via cobertura de mídia e redes sociais. Os recursos de campanha, que são mais regulares e de frequência média e alta, estão desigualmente distribuídos e beneficiam a manutenção da polarização.

Permanecem incertezas importantes sobre que papel terão as redes sociais nesta campanha. Nas anteriores, seu papel foi subsidiário. Desta vez, porém, há candidatos que dependerão decisivamente dessas mídias alternativas para manter-se na competição, como Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes. Em algum momento, pode ser agora ou não, elas passarão a ser protagonistas das definições eleitorais.

Outra dúvida é a capacidade de transferência de votos de Lula. Primeiro, as pesquisas, com exceção daquelas feitas pelo Vox Populi para a CUT, mostram perda de apoio popular para o ex-presidente. Ele caiu da casa dos 30%-40%, para o intervalo dos 20%-30%. Significa que o capital de intenções de voto a transferir para outro candidato está a diminuir. A depender da fatia que seja capaz de legar, com possibilidades limitadas de fazer propaganda, pode não ser suficiente para o candidato chegar ao segundo turno.

No caso de Alckmin, a hipótese geral entre os analistas — politólogos e colunistas — é que o apoio do Centrão lhe deu acesso às grandes máquinas partidárias locais e elas lhe darão a competitividade que ele não aparenta ter. Há dois problemas com essa hipótese. O primeiro é que não há evidência convincente de que as máquinas locais sejam boas captadoras de votos para candidatos a presidente. Ao contrário. As duas maiores máquinas locais, a do antigo PFL, hoje fracionada entre vários partidos, e a do PMDB, nunca se mostraram capazes de classificar um candidato nas presidenciais. As raras tentativas fracassaram. Estes partidos desenvolveram outra vocação, de pivôs das maiorias parlamentares e suas máquinas estão calibradas para formar bancadas suficientemente numerosas para terem esse papel. A máquina pefelista se fragmentou entre vários partidos. O DEM é uma fração do que foi o PFL. A máquina do PMDB também perdeu partes para esses novos partidos que hoje conformam o Centrão. Este é o segundo problema, a fragmentação competitiva. Eles competem por territórios e sua capacidade de apoio a um só candidato presidencial, ao mesmo tempo em que se engalfinham nas disputas para deputados estaduais e federais, é discutível. O único recurso que o Centrão oferece com segurança a Alckmin é tempo de TV e rádio. Ele terá que saber usá-lo como arma competitiva.

A conclusão é que esta é a eleição presidencial com mais imprevistos desde 1989. Na primeira eleição pós-democratização, que ficou com a imagem de surpreendente, as pesquisas mostravam Collor na frente muito tempo antes de iniciar a campanha oficial, como tem lembrado o politólogo Jairo Nicolau. Collor perdeu perto de 15 pontos percentuais ao longo da campanha, para chegar ao segundo turno com 30%. Em junho, ele tinha perto de 45% das preferências de voto. Quando começou a campanha, estava com pouco menos de 35%. Na urna, obteve 30,5%. Hoje, se os candidatos que lideram as pesquisas perderem 10 pontos percentuais ao longo da campanha não chegam ao segundo turno. Se Alckmin não crescer pelo menos 15 pontos, também não chega.

Incerteza eleitoral é bom para a democracia. Mas um quadro tão duvidoso como o que vivemos, pode não ser. Com perto de 60% dos eleitores ainda indecisos, com elevada propensão à alienação eleitoral, quem vencer pode ter dificuldades de legitimação do seu mandato. Há indefinições também para as eleições parlamentares. A hipótese dominante é de reeleição da maioria esmagadora do Congresso atual, grande parte objeto de inquéritos por corrupção. Mas não se considera, nesse cenário, a possibilidade, real, de que a indignação com a corrupção e a impunidade levem à rejeição desses candidatos, promovendo inesperada renovação nos quadros parlamentares.

Sociologicamente, o país está pronto para promover um forte realinhamento partidário. As condições institucionais, as regras e os recursos de campanha, são um freio à mudança. A questão é saber se esse freio funcionará ou se a sociedade encontrará um caminho alternativo para manifestar seu desencanto com o quadro político atual, que não seja a alienação eleitoral. Simplesmente não votar, anular o voto ou votar em branco. Opções que favorecem o statu quo.