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Presidenciais: muitas perguntas e poucas respostas

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A pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira (21) é a primeira com os candidatos já com pedidos de registro no TSE, mas ainda contaminada pela dúvida em torno da candidatura do PT. Esta, impõe um cenário muito pouco provável, com Lula na cabeça de chapa, e outro, bem menos provável, com Haddad nesta posição. Por isso, a pesquisa espontânea é mais indicativa do quadro atual de intenções do eleitorado.

Olhando-se as respostas espontâneas, há um ponto que chama atenção de imediato, o crescimento de Lula e Bolsonaro. O petista subiu 7 pontos entre o final de junho e agora, saindo de 21% para 28%. Bolsonaro teve crescimento mais modesto, de quatro pontos, saindo de 11% para 15%. Outra mudança importante é a queda de 10 pontos nos indecisos/brancos/nulos, de 59% para 49%. Destes, 7 pontos foram para Lula e 3 para Bolsonaro, que ainda somou um ponto a mais. O volume de indecisos, 27%, é alto a menos de dois meses da eleição. Os 22% de nulos e brancos é bem mais alto que a média das eleições da Terceira República. As eleições com maior volume de nulos/brancos no primeiro turno foram as de 1994 e 1998, quando esse percentual chegou aos 18%. Nas outras, ficou abaixo de 10%.

As pesquisas eleitorais com histórico que permita avaliar seus desvios em relação ao resultado das urnas, em eleições passadas. Devem se tornar mais frequentes a partir de agora. Amanhã, quarta-feira (22), sairá pesquisa do Datafolha, mas também com cenários com e sem Lula. A partir do momento em que as candidaturas estejam confirmadas e as pesquisas não sejam mais contaminadas por dúvidas sobre candidaturas será possível verificar que tendências se confirmarão.

Alguns pontos que têm sido afirmados por pesquisas acadêmicas e modelagens profissionais bem avaliadas merecem nota. O que se sabe sobre o comportamento dos eleitores nas eleições de 1994 a 2014, a partir dessas análises? Grosso modo (os números variam um pouquinho dependendo do modelo), 25% de eleitores são pró-Lula e 25% contra Lula. Entre os lulistas, nem todos são petistas. Em torno de metade do eleitorado polarizou nessa divisão Lula x antiLula, tomando-se o padrão observado nas últimas seis eleições. Na pesquisa Ibope os 37% de intenção de voto em Lula, na estimulada, contrapostos aos 30% de rejeição; ou, melhor ainda, 28% pró-Lula na espontânea e 30% de rejeição ao nome do ex-presidente parecem confirmar a resiliência dessa polarização lulismo vs antilulismo. É traço consolidado do comportamento eleitoral brasileiro nas últimas décadas apreendido pela pesquisa acadêmica. A questão é saber se ela se reafirmará com Haddad na cabeça de chapa.

Em torno de 45% do eleitorado têm flutuado entre um e outro polo nas últimas décadas e, desde 2002, mais para o lado do lulismo. Parte deste eleitorado flutuante está provavelmente contida nos 49% de indecisos/nulo/branco da espontânea. Estão paralisados entre o desencanto com a política e o desalento com os políticos, indecisos ou inclinados à alienação eleitoral. Mas não são eleitores “cabeça-feita”, podem mudar de pensamento, como mudaram no passado. São eleitores volantes, sem polo, sem identificações partidárias firmes, com uma visão ideológica difusa ou, em alguns casos, ambivalente, que se indentificam com alguns valores da esquerda e outros da direita. O fato de terem pendido mais para a centro—esquerda, diminui a probabilidade de um segundo turno entre um candidato de centro-direita, como Alckmin e um candidato de extrema-direita, como Bolsonaro.

Lula preso, manterá a lealdade desses 25%-30% ou perderá parte deles, desmanchando a polarização? O politólogo Carlos Pereira, em artigo de análise comparada, concluiu que candidatos condenados por corrupção perdem apoio e popularidade. Lula perdeu 7 pontos entre as pesquisas Ibope de novembro/2017 e junho/2018. Ele foi preso em abril. Essa queda parecia confirmar a hipótese. No Datafolha, Lula, na espontânea, caiu de 17%, em janeiro/2018, para 13%, em abril e para 10%, em junho de 2018. Ia confirmando, até então, a hipótese do efeito-condenação na popularidade e nas intenções de voto. A subida no Ibope pode ser resultado momentâneo da forte presença do nome de Lula em toda a mídia e nas redes sociais. O nome de Lula tende a ser mais forte que as mensagens a que vem associado, reforçando o efeito-recall. A verificar se esse recall persistirá ao longo da campanha e, caso persista, se Haddad se beneficiará dele ou se o efeito-condenação voltará a ser determinante. Ou seja, Lula voltará a declinar, sob o efeito-condenação na avaliação dos eleitores?

Outra pergunta é se Lula preso conseguirá transferir os votos para Haddad, principalmente no Nordeste? Haddad herdará o lulismo, ficará só com o petismo consolidado, ou nem isso? Pode se beneficiar de parte dos votos flutuantes que têm sido mais favoráveis ao PT que aos concorrentes? São perguntas ainda sem resposta. Os números do Ibope intrigam, mais que esclarecem. Na pesquisa espontânea, Haddad não é mencionado, exceto por 1% dos que têm nível superior, dos jovens entre 16-24 anos, dos que têm renda de mais de 2 a 5 salários mínimos, e dos moradores da capital. Estes, provavelmente de São Paulo. Quando perguntados se Lula declarasse o voto em Haddad o que fariam, 60% dizem que não votariam nele de jeito nenhum e 13% dizem que votariam nele com certeza. Outros 14% acham que poderiam votar nele. Na pesquisa estimulada emn que aparece encabeçando a chapa do PT, Haddad fica com 4%. Eram 2% em junho. Sua rejeição, medida pela pergunta em quem os eleitores não votariam de maneira alguma, é de 16%. Se tomarmos essa resposta como a melhor medida de rejeição, ele é o candidato com menor índice e, portanto, elevado potencial de crescimento. Se tomarmos os 60% da pergunta que o associa a Lula, seu potencial de crescimento é bem menor, provavelmente, em torno dos 25% consolidados do lulismo. Será que Lula ajuda com o lulismo e prejudica com o antilulismo? Qual terá mais força na transferência de votos para Haddad?

O Nordeste representa 27% do eleitorado. Em 2014, Dilma Rousseff teve uma vantagem de 10 milhões de votos na região. Ciro Gomes e Marina Silva podem dividir o voto nordestino e reduzir o desempenho de Haddad e Alckmin na região? Marina Silva teve 25,3% dos votos, contra 22,1% para Aécio, em 2014. Dilma teve 50%. Alckmin conseguirá passagem no eleitorado nordestino, apoiado na aliança com o Centrão?

Oito estados (SP, MG, RJ, RS, PR, PE, BA e CE) concentram 68% do eleitorado. Como os candidatos se desempenharão nesses estados críticos? Alckmin está muito aquém do necessário em São Paulo para firmar um piso alto e se tornar realmente competitivo. No Ibope, está com 15%, atrás de Lula, 23%, e de Bolsonaro, 18%. Marina tem 8%. Haddad tem voto na capital, mas perdeu a reeleição para a prefeitura. Ciro é forte no Ceará, porém menos do que Lula. O ex-presidente tem 56% das intenções de voto, pelo Ibope, e Ciro 15%. Sem Lula, Ciro passa a ter 39% dos votos, Bolsonaro, 11% e Marina, 5%. Haddad recebe apenas 2% das escolhas. Na Bahia, o PT é forte. Em Minas, PT e PSDB têm força. Qual será o efeito da disputa Anastasia (PSDB) vs Pimentel (PT) nos votos para Alckmin e Haddad? No Rio Grande do Sul, Haddad deve apostar em Manuela D’Ávila para alavancar seus votos e no PT. Mas, o partido já não é mais tão forte no estado. No Paraná, Álvaro Dias pode tirar votos de Alckmin. Há, portanto, muita incerteza ainda nos eleitorados críticos, os pivôs de qualquer vitória presidencial.

Bolsonaro tem se mostrado resiliente, mas 4 pontos de crescimento em dois meses é um desempenho modesto. Está entre 20%, sem Lula, e 18%, com Lula. É esta a marca de sua resistência. Não muda muito entre os cenários, como os outros candidatos. Os dois meses entre as duas pesquisas Ibope foram de alta intensidade da sua presença digital e crescimento de sua presença na mídia convencional, em sabatinas, entrevistas, debates e no noticiário. Sua rejeição é bastante alta, 37%. É de 41% nas capitais e entre as mulheres; de 49% no Nordeste, de 39% no Sul, e de 34% no Sudeste. As mulheres correspondem a um pouco mais de 52% dos eleitores. A rejeição a Bolsonaro de 41% representa uma fatia em torno de 21% do eleitorado. Bolsonaro conseguirá romper a barreira da rejeição feminina? Ele se consolidou na segunda posição em um período de baixa intensidade do papel da mídia convencional, quase um black-out. Nesse período, a mídia convencional repercutiu o que ocorria principalmente na esfera digital. Bolsonaro não terá contribuição relevante da rádio e da TV como recursos de campanha. Continuará presente nas entrevistas, debates e sabatinas. O que não se sabe é se sua força digital será suficiente para preservá-lo, com baixa intensidade de presença na mídia convencional, da campanha mais volumosa dos concorrentes, todos com mais tempo de rádio e TV e da propaganda negativa que poderá conter.

O desempenho de Marina Silva é bastante bom. Sua marca espontânea é muito baixa, apenas 1%. Mas seu recall é forte, 12% sem Lula, o dobro do que teria quando o ex-presidente está na cartela. Portanto, herda parte de seis votos. Sua rejeição é baixa, 23%. Tem potencial de crescimento, porém poucos recursos convencionais. Perde para Bolsonaro entre os evangélicos, 19% a 41%. Mas isto a deixa mais livre para buscar outros nichos do eleitorado.

Ciro Gomes também retorna com bom desempenho. Sua espontânea é baixa, 2%. Seu recall tem força moderada, 5% com Lula e 9% sem Lula. Sua rejeição é baixa, 21%. Tem potencial de crescimento e pode herdar votos do lulismo, se Haddad não convencer como herdeiro direto.

Como se vê há mais interrogações e “se”’s do que certezas. Nunca uma campanha foi tão decisiva e tão curta. Terá uma arrancada tardia, pois o jogo principal só começará após a provável impugnação da candidatura de Lula. Os candidatos terão que usar combinações variáveis de recursos convencionais de campanha e recursos digitais para buscar o segundo turno. Este está rigorosamente em aberto e, pela primeira vez desde a eleição de 1994, a polarização entre PSDB e PT pode pode não ocorrer. Em 1994 e 1998, ela se deu no primeiro turno. Nas demais, no segundo turno. Desta vez há uma chance não desprezível de que não ocorra. Por outro lado, sua força inercial é tanta que também não podemos descartar a hipótese de que ela se imponha ao final da campanha. Mas, para que isto aconteça, Alckmin e Haddad precisarão crescer muito e muito rapidamente para superar os candidatos que hoje se mostram mais competitivos.