Todo demagogo recorre ao povo. Quando tem contato real com a maioria na sociedade, consegue a adesão desse povo, ainda uma massa desorganizada em busca de um salvador. Bolsonaro é um demagogo sem contato com o povo real. Ele chama de povo brasileiro um grupo de seguidores fanatizados e abestalhados que vê nele qualidades que não tem e nunca teve. Bolsonaro mente tanto que passou a acreditar serem verdades as mentiras que espalha.
O povo de Bolsonaro é uma farsa ultrajante. Ao apelidar de povo brasileiro a sua turba de desatinados como ele, ofende o verdadeiro povo do Brasil. Melhor seria dizer povos brasileiros, ao falar dos ofendidos por esse arremedo de presidente, pois somos vários, e a muitos de nós, como os povos originários do Brasil, ele quer dizimar, jamais atender.
Bolsonaro não sabe quem é o povo brasileiro e quais são as suas dores. Para sabê-lo, seria preciso que tivesse empatia, solidariedade, compaixão, um rol de virtudes que ele jamais teve. Precisaria ter lido “Viva o povo brasileiro”, do grande mestre João Ubaldo. Se lesse, não entenderia, pois lhe faltaria, mais do que a cultura, o senso crítico de humor do grande mestre baiano-brasileiro. Bolsonaro se julga popular, mas é popularesco, demagogo, narcísico e alienado.
A maioria que encontrou nas urnas que julga fraudadas, era efêmera e escolheu seu nome no mais singular caso de autoengano coletivo. A trágica eleição de 2018 foi um exemplo chocante de como a soma de votos contra pessoas e fatos contemporâneos pode levar a um desastre maior. Quando se vota não, nega-se a possibilidade de encontrar um caminho verdadeiro. É o modo mais fácil de se deixar engambelar por um discurso vazio, repleto de promessas vãs, de uma candidatura construída na mentira e na enganação. Talvez por isso Bolsonaro, quando julga que houve fraude nas urnas, termine por ver a verdade no miolo das falsidades em que vive.
A fraude existiu de fato. Não nas urnas, mas na candidatura. Bolsonaro era e é a fraude. E está montando uma ainda maior na antevéspera de sua provável derrota, construída com a farsa de um povo brasileiro que desconhece e não o apoia na fantasia de um golpe ancorado em justificativa falsa. Ele é pior que o rei nu da fábula. É um clown que se leva a sério.