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A opção preferencial pelo padrão PMDB

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A decisão do PSDB de manter-se no governo Temer apenas contribui para a polarização da política, abdicando de papel mais produtivo na articulação independente de uma saída para a crise política. Impõe-se, como hegemônico, o padrão PMDB na política.

Não é uma decisão trivial. Ela tem inúmeras consequências políticas. Além disso, mostra que nosso sistema partidário como um todo, empurrado por suas escolhas, caminha para um destino trágico. Deixa a maioria do país sem representação e sem entender como todos se perdem nos descaminhos da política clientelista. O PT somou, ainda, a essa padronização do comportamento partidário, a intolerância, a desqualificação antidemocrática dos oponentes, a violência.

Ao decidir manter-se no governo a pretexto de ajudar nas reformas e considerando as “circunstâncias do país” o PSDB preferiu o álibi à verdade. Apóia um presidente em confronto direto com o Judiciário e o Ministério Público, articula para paralisar as investigações de corrupção e empenhará os recursos do governo na autopreservação. Um governo que não tem, nem terá legitimidade popular. A decisão, contestada por boa parte da bancada federal do partido, revela o peso interno de suas oligarquias. Como nos outros grandes partidos, PT inclusive, não dá espaço real para a dissidência, nem para a renovação de lideranças no topo. Não sabe separar os interesses políticos e pessoais de seus dirigentes, com os interesses políticos e coletivos do partido. A sucessão recente no PT mostra exatamente isso.

Tanto governistas, como petistas, hoje, embora não o reconheçam, estão efetivamente aliados contra o que definiram como inimigo comum, os agentes do Judiciário, que levam adiante inédita e histórica investigação da corrupção política.

O PSDB há muito perdeu a noção de tempo certo na política. Pior que não saber o tempo certo de tomar atitudes, porém, foi ter passado a adotar fronteiras morais difusas, que se alargam ou estreitam de acordo com a conveniência. Já no mensalão, o partido preferiu mudar de atitude nas investigações, quando elas chegaram a seu então presidente, Eduardo Azeredo. Enterrou, naquela mudança de atitude, qualquer esperança de ser competitivo nas eleições presidenciais. Sofreu um derrota que, se fosse no Reino Unido, teria sido classificada de humilhante. Está repetindo a mesma atitude agora. O partido pode e deve prover a seus correligionários todos os meios legítimos de defesa, mas não hipotecar sua posição político-institucional nesse processo.

Márcio Moreira Alves costumava escrever que o PMDB tinha um padrão moral homogêneo. Era um dos momentos de máxima elegância vocabular de Marcito, mesmo com a tintura inequívoca da ironia. Nosso drama é que esse padrão moral homogêneo difundiu-se por todos os grandes partidos. Presumo que o principal canal de contaminação tenha sido a opção feita pelo PT e PSDB, principalmente o primeiro, de construir rivalidade hostil, preferindo a companhia do PMDB em suas alianças presidenciais. Caso típico de abandono de afinidades próximas por alianças com aqueles que são opostos aos valores originais de criação desses partidos. Dessa forma, as duas principais forças à esquerda e à centro-esquerda, fizeram-se incompatíveis e tornaram-se, ambas, reféns das bancadas peemedebistas.

Se o Brasil, como a França, não adotasse barreiras tão elevadas à entrada de novas lideranças na disputa presidencial, é muito provável que, nas presidenciais de 2018, também aqui os grandes partidos tradicionais ficassem fora do segundo turno. Mas eles se valerão da distribuição privilegiada do tempo de TV para amordaçar os concorrentes competitivos, à esquerda, ao centro e à direita, que possam ameaçar suas posições. Nosso sistema de regras eleitorais, além da hiperfragmentação parlamentar, produz a seleção oligárquica e polarizada do chefe de governo.

A decisão do PSDB piora o quadro de crise por estreitar, ainda mais, as alternativas no centro independente, que poderiam mitigar a polarização e dar ao país uma transição menos turbulenta até o pleito de 2018. Piora as expectativas para a sucessão presidencial, porque não temos regras claras para financiamento de campanha, nem para o uso da TV compatível com os novos patamares de financiamento. Essas regras devem ser aprovadas até o final de setembro. Nas condições atuais de operação do Congresso, cada vez mais mobilizado pelo esforço presidencial de autopreservação, é difícil imaginar que de lá saiam boas regras, democráticas e competitivas, seja para financiamento das campanhas, seja para distribuição e uso do tempo de TV, um dos principais canais de corrupção político-eleitoral, como ficamos todos sabendo.